Na primeira noite do Festival de Parintins de 2023, uma figura marcante e cheia de simbolismo foi celebrada com todo o brilho e a força: a Cabocla Ribeirinha. Essa personagem, que é a síntese da mulher amazônida, traz em si a força, a coragem e a determinação das mulheres que lutam todos os dias pela preservação de sua cultura, de sua terra e de seu povo.
Desde cedo, as mulheres da Amazônia aprendem a enxergar a floresta não apenas como uma paisagem, mas como uma mãe acolhedora, que nutre e sustenta a vida. Para as mulheres que habitam as ribeiras, como as “suraras”, essa relação é ainda mais profunda. Elas são as guerreiras que herdaram das lutas de resistência dos povos indígenas e africanos a força e a garra para lutar por uma causa maior, que não é apenas sua, mas de toda uma coletividade. Suraras, como se autodenominam, são mulheres cujas vidas são entrelaçadas com o ritmo da natureza e com a luta pela sobrevivência e pela justiça social. Elas são caboclas por natureza, figuras que amam e resistem, que insistem em transformar a terra em sementes de renovação, em algo que possa germinar e reflorestar a Amazônia. Esse é um processo diário, uma teimosia corajosa que faz com que cada gesto delas seja uma resistência contra o que tentam tirar da floresta: seus recursos naturais, sua cultura, sua história e, sobretudo, sua liberdade.
A figura da Cabocla Ribeirinha, portanto, é a de uma mulher que, através de sua ação diária e constante, desafia os paradigmas de um sistema capitalista que tenta silenciar as vozes das mulheres e da natureza. Elas não se limitam a se conformar; elas agem, elas fazem a diferença. Cada ato, cada trabalho, cada esforço de surara carrega um profundo significado de resistência, não só contra as opressões que enfrentam, mas contra a exploração da terra e dos recursos naturais que pertencem a todos. Esse é o brado das mulheres amazônicas.
Reverenciar a Cabocla Ribeirinha é preservar as tradições, que assegura o sustento das gerações futuras e que, com coragem, enfrenta qualquer obstáculo para possibilitar que a Amazônia continue de pé, pulsante e cheia de vida para o futuro.
