Eu confesso que demorei muito tempo para finalmente topar ir para Parintins, tive várias oportunidades, mas não aproveitei nenhuma delas. Então, depois da pandemia de COVID-19, uma chavinha virou em minha mente e, pensando que deveria aproveitar ao máximo a vida, aceitei ir ao nosso Festival.
2023 foi o ano, depois de passar 2022 acompanhando o Caprichoso e com a esperança do bicampeonato, tínhamos de fazer dessa viagem para a Ilha da Magia a mais incrível possível e, para isso, a ida já tinha que ser diferenciada.
Minha esposa, sem pensar duas vezes, afirmou: “Vamos para Parintins de barco, mas barco de festa! Vamos na Caravana do Uendel Pinheiro!” E assim foi, juntamos um grupo de amigos e com as passagens compradas e a ansiedade a mil, o sonho recente de ir a Parintins estava se concretizando.
Fomos um dia antes ao porto para armar nossas redes e assegurar um lugar bom no barco. No dia seguinte, com tudo pronto, zarpamos do Porto de Manaus rumo à Parintins!
A experiência foi completa, milhares de redes entrelaçadas em zigue-zague, pessoas espalhadas com suas malas por todo lado, música rolando até altas horas da noite, a galera feliz, um céu lindo com a lua refletindo no rio, tudo que tínhamos direito. Mas, é claro, nem tudo foram flores.

Ficamos horas com o barco parado no meio do rio esperando para passar pela capitania, os mil e pouco passageiros e tripulantes tiveram que descer um a um para que fosse feita a contagem e um calor típico manauara castigava, mesmo estando de noite, mas depois que finalmente seguimos viagem tudo se tornou bem mais agradável.
Nem preciso dizer que aquela noite foi de apenas algumas horas de sono e sem o maior dos confortos, mas nada disso importava, todos estavam muito felizes e curtindo toda aquela experiência.
Depois de quase 24 horas de viagem, devido aos atrasos, chegamos em Parintins!
O Festival estava apenas começando e o Bumbódromo não é a única atração. Toda a cidade estava em festa, pessoas lotavam as ruas mesmo debaixo do sol escaldante, barracas de bebidas montadas e Boi Bumbá tocava em cada caixinha de som.
Aproveitamos o dia para conhecer a cidade, visitar as feirinhas de artesanato, subir na torre da Catedral, beber no Comunas e encontrar os amigos, porque de noite, o compromisso já estava marcado.

Mas vamos ao que realmente importa: a primeira noite do Festival! Tínhamos ingressos na Cadeira Tipo 1, aqueles que ficam bem embaixo da galera e da cabine dos jurados. Caprichoso era o segundo a se apresentar, mas como era nossa primeira vez, fomos prestigiar o contrário também.
Depois da não tão empolgante apresentação do boi adversário, finalmente entrou na Arena o Boi Negro de Parintins, flutuando majestoso! A Galera estava em êxtase, a Marujada tocava eufórica, meu peito tremia com cada rufar da percussão.
Edmundo Oran recitava o poema inicial, Patrick Araújo entoava as primeiras toadas e o nosso boi já mostrava toda sua grandiosidade com uma alegoria colossal de Ypuré como lenda amazônica. Que espetáculo! Caprichoso iniciava o Festival provando que vinha para vencer mais uma vez!
O Item 19 já gritava a plenos pulmões: “BICAMPEÃO” logo com a primeira alegoria! Tudo transcorreu do jeitinho que tinha que ser, foi perfeito! Nós assistíamos aos itens de perto, cantando como se não tivesse que aguentar mais dois dias de festa, a galera, incansável, fazia seu papel com alegria e disposição.
Aproximando-se do final da apresentação do nosso boi, um temporal desabou sobre Parintins sem dó nem piedade. Nesse momento Erick Beltrão, o Pajé do Boi Caprichoso, ao invés de ser atrapalhado pela água, cresceu, afinal, “se chover alegria”! Vimos uma evolução incrível naquele dia.
Nenhum torcedor arredou o pé do Bumbódromo, apesar dos degraus estarem formando rios de chuva, todos pulavam alucinados cantando e dançando juntos. Não preciso esconder que esse foi o melhor momento que eu tive no Bumbódromo! A primeira noite foi encerrada com um mar de gente encharcada saindo da Arena feliz, cantando toadas do boi azul e branco e gritando mais uma vez em coral: bicampeão!
O segundo dia de Festival não ia ser diferente. Estávamos prontos para aproveitar o máximo da cidade, então, acordamos relativamente cedo, até porque a euforia do dia anterior não nos deixou dormir muito, e fomos tomar café no Mercado Municipal de Parintins, afinal, nosso café da manhã regional é de lei, parada obrigatória em sua viagem para Parintins. Mas aqui vai mais uma dica para sobreviver na Ilha. Se você quiser ir tomar café no Mercado, vá cedo! As opções de alimentação vão se esgotando rapidamente e você pode ficar a ver navios.
Bem, como ainda tínhamos o dia pela frente, almoçamos e de tarde compramos ingressos para ir ao Kwait, uma das festas mais conhecidas que rolam durante o festival. Nesse dia, Banda Eva se apresentou e olha, que show bom, que vibe maravilhosa de toda a galera que estava lá. Foi uma tarde incrível, com vários amigos juntos e todos cantando e curtindo.

Mas, como sempre, a prioridade é a noite do festival. Então, quando anoiteceu, resolvemos sair do Kwait para nos arrumarmos, porém, estávamos em grande quantidade e lá não é exatamente perto do centro da cidade. Foi quando em meio a discussões de como iríamos fazer para voltar que uma amiga avisa que conseguiu uma carona com um cara que tinha uma pick-up.
Agora imagine a cena: mais ou menos umas dez pessoas na carroceria da pick-up cantando e gritando pelas ruas de Parintins toadas do caprichoso e os torcedores do Caprichoso que passavam saíam correndo e cantando também. Simplesmente hilário e divertidíssimo!
Mas, voltando ao que interessa: segunda noite de festa, o Caprichoso mais uma vez era o segundo a se apresentar. Eu estava exausto do dia agitado, mas jamais cogitaria faltar, não estava nem tão firme e nem tão forte, porém fui sem pestanejar.
Assistir ao contrário esse dia seria difícil, mas chegamos no horário para acompanhar a apresentação completa da noite, porém, o cansaço estava grande essa noite, não resisti e cochilei no meu lugar no meio do Bumbódromo. Sim, isso foi possível. Mas no fim das contas, não consegui dormir muito, mas foi restaurador, quando o Caprichoso entrou na Arena eu voltei totalmente disposto e pronto para aproveitar mais uma noite onde houve mais um grande show da nossa ópera a céu aberto em Parintins.
Depois de mais uma excelente apresentação do Caprichoso e dessa vez sem estar caindo um temporal, deu para aproveitar o pós-apresentação. Mas o que fazer após o espetáculo na Arena? Bem como nos ensina a toada: “amanhecer com a galera e andar pelas ruas com o seu amor, não é mesmo?
Primeira coisa é procurar algum lugar para comer e tomar uma cervejinha enquanto comenta com os amigos sobre a noite, depois é andar, passar pela Catedral, pelo Comunas e no caso, terminei a programação da noite na Praça Digital, mas esse rolê só vai até às quatro da manhã, então resolvemos ir para o pier ao lado do Mercado para ver o sol nascer e então fechar (ou abrir) o dia com um café da manhã na varanda do Mercado com vista para o rio, aproveitando as amizades que foram feitas no decorrer da viagem, afinal, uma das coisas mais divertidas de Parintins é conversar com pessoas aleatórias e fazer novos amigos.
Bem, é chegado o último dia, mas dessa vez não deu tempo de fazer muita coisa, até porque é preciso dormir, chegar 8 horas da manhã em casa não ajuda muito no aproveitamento da luz do dia, por isso só almoçamos, passamos para comprar umas camisas, passar no Comunas e já é hora de ir para o Bumbódromo. Mais uma vez que o Caprichoso vai se apresentar por último, a ansiedade já estava nas alturas, Caprichoso prometia fechar 2023 com chave de ouro e ele foi lá e entregou!
Depois disso foi mais uma noite andando pelas ruas de Parintins até o dia amanhecer, feliz por tudo que tinha vivido e com uma esperança, quase certeza, da vitória do nosso boi.
Porém, chega o dia mais tenso de todos, o dia da apuração! Como era nossa primeira vez, não tinha como ser diferente, fomos para o Bumbódromo acompanhar. Confesso a todos que foi só essa vez mesmo, não tenho emocional para isso. Foi um misto de ansiedade e apreensão com a euforia e diversão das torcidas se instigando. A cada nota era um desespero, Caprichoso e o contrário seguiam acirrados na apuração, com uma diferença mínima de notas apesar da discrepância assustadora na arena.
A cada nota baixa descartada era um suspiro de alívio ou de receio, dependendo do lado que acontecia. O áudio da arena falhava e os torcedores com o tempo acabavam ficando mais apreensivos.
Já nervoso comecei a acompanhar com o celular a transmissão para ter uma ideia de como estava a tabela e das notas quando fazendo os cálculos enquanto olhava uma tabela com a letra minúscula na minha tela, percebi que não dava mais para o Caprichoso ser alcançado! Nesse momento foi uma explosão de alegria na Arena! Os torcedores azulados chorando e se abraçando de alegria enquanto gritavam em êxtase pelo bicampeonato.
Não demoramos muito e corremos para acompanhar a marcha até o Curral Zeca Xibelão. Logo que chegamos na área externa vimos o então presidente Jender Lobato com o troféu na mão levantado sobre a cabeça e nos juntamos à multidão azul para comemoração.

Depois de aproveitar a festa no curral, chega a parte mais legal da festa da vitória. Sair pelas ruas junto aos trios elétricos cantando e pulando junto aos amigos com a maior felicidade possível no Festival.
Porém, aqui vai mais uma dica! Proteja muito bem os seus pertences, vá com uma doleira e tome muito cuidado! Não, eu não fui furtado, mas deixei o meu celular cair no meio daquela multidão e aí, meu amigo, isso estraga a sua noite.
No momento que eu percebi que tinha perdido meu celular, aquele frio na barriga bate instantaneamente. Na hora eu pensei, fui furtado. Cutuquei minha esposa e contei o que tinha acontecido, ela ficou chateadíssima porque tinha me avisado por diversas vezes para eu tomar cuidado. Eu e mais dois amigos tentamos voltar para ver se encontrávamos, mas não tinha jeito em meio a tanta gente junta.
Bem, já não tinha mais muito o que fazer, tinha acabado de estragar a minha noite de comemoração por um grande descuido. Peguei o celular da minha esposa para rastrear o meu e apagar as informações, afinal, todo cuidado é pouco nesses momentos. Porém, começamos a visualizar o mapa e ainda era possível rastrear o aparelho, ele estava já longe da multidão e em um local próximo de onde estávamos hospedados.
Para a minha sorte (e põe sorte nisso) uma moça chamada Renata o encontrou e estava tentando entrar em contato! Nos encontramos seguindo o mapa e recuperei o meu celular (Mais uma vez, muito obrigado, Renata)! Isso é a prova de que ainda existem pessoas boas e honestas nesse mundo.
E com isso, chegou ao fim a minha primeira viagem para o Festival de Parintins. Voltamos de avião para casa exaustos, cheios de histórias para contar, felizes com a vitória do nosso boi e com meu celular na mão (hehehe).
Recomendo muito fortemente que todos um dia de suas vidas visitem esse lugar mágico, não só para aproveitar a festa na Arena do Bumbódromo, mas para conhecer cada cantinho da ilha, tendo uma experiência completa, conversando com pessoas, fazendo novos amigos, conhecendo os restaurantes, brincando de boi pelas ruas e torcendo para o seu preferido!
Até logo, amigos! Nos vemos em 2025 na Ilha da Magia!

Autor do conteúdo:
Jonathan Lima, 34 anos, manauara, torcedor do Caprichoso 💙⭐, formado em Direito, funcionário público e corredor amador nas horas vagas.