Pelos rios da Amazônia singraram muitas histórias de esperança, resistência e bravura. Uma dessas narrativas perdura até os dias de hoje, contada de geração em geração entre os povos da região. No Noroeste da Amazônia, em meio aos territórios dos povos Tariana, uma história de revolta e transformação se destaca: a luta das mulheres de Izi contra as imposições do patriarcado do líder tuxaua Jurupari.
Em um tempo de opressão e controle, essas mulheres, determinadas a tomar as rédeas de seu destino, rebelaram-se contra o domínio masculino que o líder Jurupari impunha sobre sua tribo. Em um gesto simbólico de emancipação, cortaram seus cabelos a golpes de sílex, rejeitando as amarras do patriarcado e dando início a uma nova era. Em sua jornada de liberdade, desceram o rio e se estabeleceram nas margens do Rio Nhamundá, onde fundaram um novo modo de vida, distinto e revolucionário para a época.
Foi ali, nas margens do Nhamundá, que nasceu o matriarcado das Icamiabas, também conhecidas como as “adoradoras da lua”. Sob a liderança de Conori, uma mulher forte e sábia, as Icamiabas ergueram uma sociedade onde as mulheres protagonizaram nas decisões políticas e sociais. Ao contrário de muitas tribos da época, onde o poder estava concentrado nas mãos dos homens, as Icamiabas estabeleceram um sistema onde as mulheres eram as principais líderes, responsáveis pela organização da tribo, pela sabedoria ancestral e pela proteção das terras e dos rios que eram sagrados para elas.
Nas festas cerimoniais das Icamiabas, mulheres guerreiras da Amazônia, elas invocavam a força do jaguar-rei, uma figura mítica que representava poder, coragem e proteção. Durante os rituais, onde se transformavam em mulheres jaguatiricas, ou mulheres-onças, seres híbridos com habilidades de combate e conexão com a natureza. Essas mulheres eram vistas como guardiãs ancestrais do fogo, das águas e de toda a floresta, encarregadas de proteger e preservar o equilíbrio natural. Por meio dessas cerimônias, as Icamiabas reforçavam sua ligação espiritual com os elementos sagrados e com o ciclo de renovação da natureza, perpetuando suas crenças e sua força de resistência.
Até hoje, a história das Icamiabas ressoa como um poderoso legado de luta pela liberdade, autonomia e igualdade, e sua figura se mantém viva na memória de muitos povos da Amazônia, como uma referência de força feminina e resistência.
Na arena do Bumbódromo, o Boi Caprichoso reverencia as guardiãs que inspiram lutas de mulheres indígenas como Tuíra Kayapó, Célia Xacriabá, Sônia Guajajara, Sâmela Sateré, Alessandra Kabá, Teporí Yawalapiti e a cunhã-poranga Marciele Munduruku.
