O Festival de Parintins é um evento que carrega a força e a espiritualidade de um povo. Em sua edição de 2023, a primeira noite trouxe à tona um dos rituais mais profundos e representativos da cultura indígena do Amazonas: o Ritual de Transcendência Parintintin – Yreruá, A Festa do Guerreiro. Originário do povo Parintintin, também conhecido como Kawahib, esse ritual é uma celebração da cura, da vida e da conexão com o universo espiritual.
O povo Parintintin é considerado ancestral do povo parintinense, e suas tradições são transmitidas de geração em geração por meio da oralidade e de rituais sagrados. O Yreruá é marcado por um profundo simbolismo e por uma intensa conexão com o mundo sobrenatural. A cerimônia é conduzida pelo pajé, o Ipají, figura central da tradição. Vestido com adornos ancestrais e empunhando seu maracá, ele inicia a celebração entoando orações e cânticos, súplicas dirigidas às forças espirituais que regem o universo. Para alcançar o transe e abrir os caminhos para o mundo dos espíritos, o Ipají inala paricá, uma substância sagrada utilizada nos rituais de transcendência.
Ao vibrar seu maracá, o Ipají se prepara para adentrar um casulo espiritual. Sua jornada não é simples; ele deve enfrentar desafios no Altar das Feras, um domínio guardado por uma Aranha, entidade mítica que detém o poder sobre a vida e a morte. Essa figura representa a força ancestral da floresta e da vida selvagem, pondo à prova a coragem e a devoção do pajé em sua busca pela cura.
Se o Ipají for bem-sucedido em sua travessia, ele alcançará a presença de Bahíra, o Deus supremo dos Parintintin. Diante da divindade, o pajé suplica pelo fogo da cura e pelos segredos de Pindova’úmi’ga, os conhecimentos sagrados capazes de curar tanto os males do corpo quanto os da alma. Após essa experiência transcendental, o Ipají retorna ao plano terreno, trazendo consigo a força e os ensinamentos adquiridos, prontos para serem compartilhados com o seu povo em uma grande celebração da vida.
Yreruá – A Festa do Guerreiro é, portanto, uma celebração da vitória da vida sobre a morte, um momento de renovação espiritual e de gratidão pelas bênçãos recebidas. Mais do que um ritual de cura, é uma afirmação da identidade cultural e da profunda conexão do povo Parintintin com a floresta e o mundo espiritual.
Ao ser apresentado no Festival de Parintins, esse ritual se torna uma homenagem à sabedoria ancestral dos povos indígenas e um lembrete do poder que reside nas tradições que nos conectam à natureza e ao invisível. O Ritual de Transcendência nos ensina que, em tempos de crise – seja física ou espiritual –, a cura pode ser alcançada por meio da conexão com as forças superiores e do respeito às sabedorias herdadas de nossos ancestrais.
É, portanto, um convite para que todos nós, ao som do maracá e ao ritmo da dança, possamos embarcar em uma jornada de cura, transformação e renovação.
